segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

DE REPENTE A ETERNIDADE!

(Um de meus cardiologistas me falou sobre a "maior invenção da humanidade" - gostei tanto que escrevi esta
história - Esta é uma homenagem a ele. Obrigado doutor pelá "máxima"):




A ciência diz tanta coisa! Por exemplo, em 2013, já faz quase 14 b
ilhões de anos que aquilo que chamam Big Bang pipocou fazendo tudo o que estava comprimido na cabeça de um microscópico alfinete explodir e originar o Universo. Daí o espaço se expandiu para todos os lados como uma boiada de estrelas desgarradas.
Naquela tarde só me lembro de ter dito: “Dá o pé, louro”. E então, quando eu apreciava a linda vista da montanha desde a varanda, o mundo acabou. Foi de repente. O clarão de um raio, tão rápido que nem ouvi o trovão. À minha volta nada mais era como antes. Só eu e o louro Dida, meu papagaio, sobrevivemos. Dias e noites continuaram se sucedendo como sempre, mas só eu e meu louro existíamos vivos na Terra. Não havia animais nem insetos, nada. Nunca mais senti fome nem sede, não precisava comer nem beber. Não era sensível a temperaturas e nem necessitava respirar. Meu corpo não tinha mais que executar qualquer necessidade fisiológica. Meu papagaio, fiel companheiro, estava comigo. Como imortais numa Terra onde não existia a morte, eu e meu louro empreendemos andanças ao redor da Terra. Trilhões de voltas ao mundo. Nada nos era desconhecido. A Terra, como algo vazio e errante vagava pelo espaço como grande bola perdida. E eu e meu louro nela. Nada nos faltava, pois nada precisávamos.
Transcorridos uns 6 bilhões de anos - como a ciência já ensinara -, Andrômeda, a Via Láctea e outros aglomerados de estrelas fundiram-se numa única grande massa estelar dominando nosso céu. No horizonte o Sol muito inchado e agonizante, morria como uma enorme moribunda gigante vermelha apagando-se, deixando a Terra às escuras. Só a pálida luz das mescladas Andrômeda e Via Láctea clareava a Terra sem distinguir dia ou noite.
Naquele estágio previsto pela ciência já se iam passados uns 100 bilhões de anos. Eu e meu louro nos sentíamos bem, não precisávamos nada diferente. Mas, passados 100 trilhões de anos, sumiu a luz das estrelas de Andrômeda e da Via Láctea. Extinguiram-se. Em seu lugar instalou-se um imenso buraco negro. As outras galáxias do Universo, devido à expansão do espaço, já tinham desaparecido algures, e sua luz nunca mais chegou até eu e meu louro, porque a velocidade da expansão do espaço era muito maior que a velocidade da luz.
100 trilhões de anos! Toda luz sumiu. Restou apenas escuridão completa numa grande pelota rochosa chamada Terra. E eu e meu louro nela.
Levei toda a eternidade para entender qual foi a maior das descobertas ou invenções dos humanos enquanto existiram. A roda? A Teoria da Evolução? O avião? A Teoria da Relatividade?
Após mais de 100 trilhões de anos cheguei à conclusão de que a maior das descobertas ou invenções humanas foi aquilo que nunca mais necessitei: a privada.
- Dá o pé, louro.

(O crédito da ilustração acima é foto reproduzida do Livro "O Átomo" do Dr. Fritz Kahn, publicado pela Editora Melhoramentos lá por volta de 1960 ou pouco antes)