segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Vó e o Marolo (Ariticum do Campo)






A ONÇA E O MAROLO


(ARITICUM)


Nossa avó era pobre. Mas quem precisa de dinheiro ou bens onde há o amor? O amor sempre dá um jeito para as carências. Ela dedicava um carinho todo especial à minha irmã de seis meses. (Obrigado, querida avó. Hoje, do alto da vida, com lágrimas de saudade lhe agradeço por tudo o que fez por nós.)


Sem recursos, de onde ela obteria sustento para mais três bocas em sua casa? Uma das estratégias da velha guerreira era entrar na mata e colher frutas. Ela nos deixava por horas e sumia mato a dentro. Depois voltava com aquele sorriso lindo e inesquecível, com os braços cheios de marolo, um tipo de ariticum grande. Trazia também outras frutas. Nós a amávamos muito e aprendíamos, pelas suas ações, como ser fortes. Ninguém mais do que ela devia estar sofrendo pela doença da filha.


Mas um dia a vó voltou do mato com os olhos arregalados. Não era seu costume ter medo, mas teve.


- Menino, eu não vou mais no mato!


- Por que, vó?


- Vi umas marcas de patas de onça desse tamanho! - e mostrou o tamanho com um gesto. Era verdade, pois nunca mais a vó foi catar frutas. Não comemos mais daquelas frutas-do-conde. Hoje, todas as vezes que compro uma na feira, me vem à lembrança o rosto moreno e cheio de amor da minha querida avó, guerreira inesquecível. Aí eu digo baixinho só para mim, “ por favor saudade, não me maltrate tanto!”

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